domingo, 30 de outubro de 2011

Troica – A fantasia da cura pela austeridade!

Na Grécia, na Irlanda e em Portugal, a EU e o FMI estão a viver a sua própria fantasia de países curados pela austeridade. Mas para lá da fachada, começamos a ver a realidade dos bancos europeus a falirem por causa de maus investimentos, escreve o colunista económico David McWilliams no jornal Irish Independent (publicado no Courrier Internacional de Novembro, pp. 64) Segue-se excerto desse artigo.

A troika falhou porque o seu objetivo não era salvar a Irlanda, a Grécia e Portugal mas sim isolá-Ios - peões de um jogo muito maior para salvar o euro. Para fazer isto, a troika teve de designar a Irlanda, a Grécia e Portugal como os únicos delinquentes que, assim, podiam ser tratados isoladamente. A política isolacionista é concebida como uma espécie de quarentena financeira para evitar contágio. Se a missão da troika tivesse funcionado, ter posto esses países em quarentena teria fortalecido as defesas dos bancos europeus.
Assim, o objetivo do FMI e da UE não era salvar estes países, mas sim garantir que não haveria muitas perguntas sobre aquilo que estava escondido por baixo dos balanços dos bancos da Europa.

Desconfiança generalizada

Mas não resultou. Os balanços dos bancos da Europa estão cheios de maus investimentos. Coisa que assusta toda a gente. Por isso, os bancos deixaram de emprestar dinheiro uns aos outros porque ninguém confia em ninguém. Como toda a gente mentiu, não é surpreendente. A isto se chama crise de liquidez. Esta crise da dívida soberana aumenta o sentimento de pânico e significa que o único comprador de dívida soberana será o Banco Central Europeu. Mas isso contraria as próprias regras do BCE e faz tremer os alemães porque temem que o seu banco central se torne o principal financiador do desperdício financeiro da Europa.
Isto parece ser contágio, exatamente aquilo que a troika queria prevenir. Mas a receita da "quarentena de países" falhou. Agora, abunda o contágio e a infeção alastra. Qualquer futuro resgate de todo o sistema financeiro poderá envolver biliões de euros. Nada disto se resolve sem o preço político de uma integração política acelerada. Mas, agora, a irresistível força de uma maior integração política embate contra o objetivo imóvel dos cidadãos da Europa que não querem o federalismo. Esperam-se referendos e, então, começará o verdadeiro fogo de artifício.
Lembra-se do que aconteceu ao país que construiu as aldeias Potemkin? Foi invadido pela pós-revolucionária França napoleónica, que era exatamente o género de Armagedão político que aquela pequena mentira das "aldeias" queria evitar.

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